quinta-feira, 30 de maio de 2013

A greve da PM de 2001: intransigência, lições e empulhação



                                                          
* Iltami Rodrigues da Silva


Há exatos doze anos a Polícia Militar do Tocantins iniciava um movimento de paralisação que durou quase duas semanas e colocou em xeque a hegemonia política do governador Siqueira Campos (Assista aqui vídeo sobre o assunto http://www.youtube.com/watch?v=5ldRSGHzQZ0. Naquela oportunidade a tropa reivindicava, entre outras questões, reajuste salarial de 47%, pagamento de horas extras e um plano de promoções para soldados, cabos e sargentos. O que era para ser apenas um movimento reivindicatório dos policiais em busca de melhores condições de trabalho e remuneração tornou-se um ato de rebeldia devido à postura do governador em não negociar.
A greve de 2001 – mais conhecida entre os militares como Movimento Paredista 21 de Maio – durou 12 dias e envolveu cerca de 5 mil policiais. Naquela ocasião cerca de 90% do efetivo da corporação cruzou os braços e, sem conseguir diálogo com o governo, resolveram tomar alguns quartéis com armas, munições e equipamentos. Nas principais cidades do Estado, 11 quartéis foram ocupados por policiais armados. Em Palmas cerca de 600 grevistas ocuparam o 1º Batalhão da PM tornando o local o principal foco do motim. Em Araguaína e Gurupi os militares também cessaram suas atividades e os respectivos Batalhões demonstraram apoio ao comando de greve sediado na capital.
Ao mesmo tempo em que se recusava a negociar enquanto os policiais militares mantivessem o motim, Siqueira Campos solicitou ao então presidente Fernando Henrique Cardoso o envio de tropas do Exército para o Estado. A medida foi sustentada sob o argumento de que o governo precisava garantir a segurança pública enquanto a greve perdurasse. (Assista aqui sobre a insegurança durante a grevehttp://www.youtube.com/results?search_query=o+caos+da+grreve&oq=o+caos+da+grreve&gs_l=youtube.3...144055.148670.0.148905.20.17.2.1.1.0.252.1894.6j7j3.16.0...0.0...1ac.1.11.youtube.ZcExbMGEESs). As tropas federais vieram ao Tocantins com a missão de assumir o papel de polícia, manter a ordem na cidade e retomar as instalações do 1º Batalhão.
Um confronto entre policiais militares mal armados e muitos deles acompanhados por esposas e filhos contra forças do exército brasileiro, que contava inclusive com tanques de guerra, só não ocorreu devido à intervenção do juiz federal Marcelo Albernaz que concedeu liminar a uma ação movida pelo então procurador-chefe da República no Estado, Mário Lúcio Avelar, que impedia que o Exército invadisse o quartel. Na peça o procurador sustentou e o juiz acatou a tese da ilegalidade da presença de tropas federais no Tocantins dado que as mesmas só podem se deslocar no território nacional quando suas atividades (que inimigos vão combater e como) estão claramente discriminadas, o que não foi devidamente feito pela ordem presidencial que permitiu o deslocamento delas para o “coração do Brasil”. A greve acabou em 31 de maio de 2001 com o governador aceitando a maioria das condições colocadas pelos militares. Uma vez encerrada a greve, o governo não cumpriu tudo o que havia prometido. Muito embora tenha garantido reajuste salarial houve muitos casos de perseguições, remoções e processos sobre muitos policiais envolvidos no movimento grevista.
Passados doze anos já é possível tirar algumas lições do episódio. É um erro grave para qualquer governo não manter permanente diálogo com movimentos reivindicatórios civis ou militares. Em 2001, o governo Siqueira Campos não sabia e não queria dialogar. Até aquele momento Siqueira governava praticamente sem contestações e raramente era incomodado por movimentos reivindicatórios. A não ser pelas reivindicações salariais de professores e a greve de universitários contra a privatização da Unitins no início do ano 2000, o governo seguia seu curso envolto em razoável calmaria. A ruidosa greve da PM questionou diretamente o poder da oligarquia Siqueirista fazendo com que a mesma reagisse com truculência. Seu comportamento e suas decisões durante a greve apenas reforçaram a imagem de político afeito a medidas “autoritárias”. O resultado dessa postura quase levou a uma tragédia.  
Hoje se entende que para a corporação aquela foi uma situação limite. Baseada no respeito à hierarquia, essa instituição não pode se dar ao luxo de recorrer, com frequência, a medidas desse tipo para alcançar melhorias sob o risco de comprometer um de seus pilares. Ficou claro também que as forças policiais, agentes de “manutenção da ordem” podem, eventualmente, tornarem-se elementos da “desordem”, por questões claramente corporativas e não ideológicas. Curiosamente o movimento de 2001 permitiu a ascensão de lideranças militares ao cenário político estadual. Muitos participantes do movimento tomaram gosto pelo embate político e diversos deles se elegeram vereadores, vice-prefeitos, prefeitos e deputados estaduais. Talvez o maior exemplo seja o principal líder do movimento Manoel Aragão da Silva, o Sargento Aragão, que já se elegeu deputado estadual diversas vezes e se consolida como um dos maiores opositores ao Siqueirismo.
Mas a despeito do imenso ruído e da grande repercussão que teve, o episódio parece ter provocado poucas modificações na política de segurança pública do Tocantins. Apenas a questão salarial teve um avanço digno de menção. Hoje a remuneração dos militares tocantinenses está entre as melhores do país, é o que diz o próprio Sargento Aragão. Mas é só. Num momento em que se vive uma crise na segurança pública é evidente a necessidade de maior efetivo, especialmente nas cidades mais importantes. O anúncio de 300 vagas anunciadas pelo governo mostra o grau de prioridade que é dada a essa questão. O governo não se compromete quando o assunto é aumento real do efetivo, mais equipamentos e mais investimentos. Está, no momento, envolvido numa medida revolucionária que promete resolver de uma vez por todas os problemas do setor: trocar os titulares dos postos de comando. Esse Siquerido...
_____________________________________________________

* Iltami Rodrigues da Silva é Historiador – Professor no Colégio João XXIII em Colinas do Tocantins

Nenhum comentário: